IMPRENSA CNBB

 

“Venho como penitente que pede perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade. Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz.”

 

A viagem do Papa Francisco ao Iraque foi realizada entre o dia 5 e esta segunda-feira, 8 de março, com a ideia resumida na frase acima. Francisco deu importantes passos no diálogo com as religiões presentes no Iraque e motivou os cristãos que sofrem as consequências da guerra e da intolerância. Confira os principais pontos dessa visita histórica:

A chegada e a recepção

O Papa Francisco chegou ao Iraque no início da tarde de sexta-feira, 5 de março. No Aeroporto Internacional de Bagdá, recebeu as boas-vindas e teve um breve encontro com o Primeiro Ministro da República do Iraque, Mustafa Abdellatif Mshatat, conhecido como Al-Kadhimi. Em seguida, o Papa Francisco dirigiu-se ao Palácio Presidencial para a Cerimônia Oficial de Boas-Vindas, onde foi recebido pelo presidente da República do Iraque, Barham Ahmed Salih Qassim.

Calem-se as armas

No Palácio, ocorreu a Cerimônia Oficial de Boas-Vindas e o encontro com as Autoridades, os representantes da Sociedade Civil e os Membros do Corpo Diplomático. Em seu discurso, Francisco ressaltou sua postura no contexto da viagem: “Venho como peregrino para os animar no testemunho de fé, esperança e caridade que dão no meio da sociedade iraquiana”.

Como responsáveis políticos e diplomáticos, sois chamados a promover este espírito de solidariedade fraterna. Há necessidade de contrastar o flagelo da corrupção, os abusos de poder e a ilegalidade. Mas não basta! Ao mesmo tempo, é preciso edificar a justiça, aumentar a honestidade, a transparência e reforçar as instituições que a isso presidem. Assim pode crescer a estabilidade e desenvolver-se uma política sadia, capaz de oferecer a todos, especialmente aos jovens (tão numerosos neste país), a esperança dum futuro melhor.

Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte! Cessem os interesses de parte, os interesses externos que se desinteressam da população local. Dê-se voz aos construtores, aos artífices da paz; aos humildes, aos pobres, ao povo simples que quer viver, trabalhar, rezar em paz! Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias! Dê-se espaço a todos os cidadãos que querem construir juntos este país, no diálogo, no confronto franco e sincero, construtivo. Quem se empenha pela reconciliação e o bem comum esteja disposto a deixar os seus interesses de lado.

Zelo apostólico

O último compromisso público do Papa Francisco no seu primeiro dia de viagem foi um encontro com bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e catequistas na Catedral Católica Síria de Nossa Senhora da Salvação. A esperança, unidade e o zelo pastoral foram um dos vários temas que o Papa Francisco abordou no encontro.

“As carências do povo de Deus e os árduos desafios pastorais que enfrentais diariamente, agravaram-se neste tempo de pandemia. Há uma coisa, porém, que nunca deve ser bloqueada nem reduzida: o zelo apostólico, que hauris de raízes muito antigas, da presença ininterrupta da Igreja nestas terras desde os primeiros tempos”

Encontro histórico

No sábado, 6 de março, em Najaf, o histórico encontro do Papa com o Grande Aiatolá Al-Sistani, considerado o maior ponto de referência religioso, teológico e jurídico para os muçulmanos xiitas no Iraque. A reunião com o expoente do Islã xiita poderá trazer bons frutos não só para o Iraque como um todo, mas em particular para as comunidades cristãs e minoritárias.

Encontro Inter-religioso na Planície de Ur

Na terra de Abraão, na planície de Ur, foi realizado um dos eventos mais aguardados da viagem do Papa Francisco ao Iraque. Judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras religiões se reuniram para rezar e regressar aos primórdios da obra de Deus junto à humanidade. A cidade é indicada como o local de nascimento de Abraão e onde o Patriarca das religiões monoteístas falou pela primeira vez com o Criador.

“Erguemos os olhos ao Céu para nos elevarmos das torpezas da vaidade; servimos a Deus, para sair da escravidão do próprio eu, porque Deus nos impele a amar. Esta é a verdadeira religiosidade: adorar a Deus e amar o próximo.”

Missa na Catedral de São José

De volta a Bagdá, o Papa Francisco presidiu a Santa Missa na Catedral caldeia de São José, em Bagdá. Em sua homilia, refletiu sobre as Bem-aventuranças: “Não devemos esquecer que, com Jesus, somos bem-aventurados e testemunhas que, vivendo as Bem-aventuranças, ajudamos Deus a realizar as suas promessas de paz”.

 

Oração pelas vítimas da guerra

No domingo, o Papa Francisco foi para Erbil e, em seguida, dirigiu-se para Mosul, onde fez uma Oração de sufrágio pelas Vítimas da Guerra no Hosh al-Bieaa, o Pátio da Igreja destruída pelo Estado Islâmico.

As palavras introdutórias do Papa antes da oração:

Se Deus é o Deus da vida – e é-o –, a nós não é lícito matar os irmãos no seu nome.

Se Deus é o Deus da paz – e é-o –, a nós não é lícito fazer a guerra no seu nome.

Se Deus é o Deus do amor – e é-o –, a nós não é lícito odiar os irmãos.

– Papa Francisco

 

                No final da manhã, Francisco dirigiu-se a Qaraqosh, onde visitou a Comunidade de Qaraqosh na Igreja da “Imaculada Conceição”.

Este nosso encontro demonstra que o terrorismo e a morte nunca têm a última palavra. A última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte. Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte. Tendes diante de vós o exemplo dos vossos pais e mães na fé, que adoraram e louvaram a Deus neste lugar. Perseveraram com firme esperança no seu caminho terreno, confiando em Deus que nunca decepciona e sempre nos sustenta com a sua graça. A grande herança espiritual que nos deixaram continua a viver em vós. Abraçai esta herança! Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos.

Jesus mostra o caminho de Deus

À tarde, de volta à Erbil, presidiu a Santa Missa no Estádio “Franso Hariri”. Foi o último compromisso público do Papa em sua visita histórica ao Iraque. Erbil é a capital da região autônoma do Curdistão iraquiano e a quarta maior cidade do país, com cerca de 2 milhões de habitantes. A missa presidida pelo Pontífice também foi o momento da viagem apostólica com o maior número de participantes. O estádio com capacidade para cerca de 28 mil pessoas, teve lotação limitada em 10 mil por causa da pandemia.

“Aqui, no Iraque, quantos dos vossos irmãos e irmãs, amigos e concidadãos carregam as feridas da guerra e da violência, feridas visíveis e invisíveis! A tentação é responder a estes e outros factos dolorosos com uma força humana, com uma sabedoria humana. Jesus, ao contrário, mostra-nos o caminho de Deus, aquele que Ele mesmo percorreu e por onde nos chama a segui-Lo”, disse o Papa em sua homilia.

Na segunda-feira, o Papa participou de cerimônia de despedida no Aeroporto Internacional de Bagdá e retornou para Roma.